domingo, 7 de fevereiro de 2010

O que eram os Demônios Caprinos mencionados na Bíblia?


A palavra hebraica sair, significando literalmente “peludo ou hirsuto”, refere-se usualmente a um bode ou cabrito. (Gên. 37:31; Lev. 4:24) No entanto, em quatro textos, os tradutores costumam, em geral, considerar a palavra hebraica como tendo significado além de seu uso comum. — Lev 17:7; 2 Crô. 11:15; Isa. 13:21; 34:14.
Em Levítico 17:7 e 2 Crônicas 11:15, o termo (seirim, no plural) é usado com referência a coisas a que se dá adoração e se oferecem sacrifícios em conexão com a religião falsa. Na Versão dos Setenta grega, a palavra é vertida “coisas sem sentido” e na Vulgata latina, “os demônios”. Tradutores modernos e lexicógrafos muitas vezes adotam o mesmo conceito, traduzindo-a por “demônios”, “sátiros” (Al, ALA, CBC, PIB) ou “demônios caprinos”. — NM; Lexicon in Veteris Testamenti Libros, Hebrew, German and English Lexicon of the Old Testament.
Aparentemente, os israelitas haviam sido influenciados até certo ponto pela adoração falsa praticada no Egito. (Jos. 24:14; Eze. 23:8, 21) Por isso, alguns eruditos acham que Levítico 17:7 e 2 Crônicas 11:15 indicam que existia alguma forma de adoração de bodes entre os israelitas, como havia de modo destacado no Egito. Heródoto afirma que os gregos derivaram deste culto egípcio a sua crença em Pan e nos sátiros, deuses lascivos da floresta, representados com chifres, rabo de bode e pernas de bode.
A Bíblia não diz o que, exatamente, eram tais “peludos ou hirsutos”. O termo não necessariamente indica ídolos em forma de bode, pois o uso de “bodes” pode apenas ser uma expressão de desprezo, assim como a palavra para “ídolo” se deriva dum termo que originalmente significava “bolotas de esterco”. É possível que “peludos” ou “bodes” simplesmente indicasse que, na mente dos que os adoravam, tais deuses falsos eram concebidos como de forma caprina ou peluda na aparência.
O sentido de se’irim em Isaías 13:21 e 34:14 não é tão claro, visto que não se condena ali diretamente a adoração falsa. Descrevendo a ruína desolada em que se tornaria Babilônia, Isaías escreveu: “Ali se hão de deitar os freqüentadores de regiões áridas, e suas casas terão de encher-se de corujões. E ali terão de residir avestruzes, e os próprios demônios caprinos saltitarão por ali.” (Isa. 13:21) É interessante notar que a Versão dos Setenta diz neste caso “demônios”; e em Revelação 18:2, a descrição de Babilônia, a Grande, menciona que ela é moradia de aves impuras e de “demônios”.
Por conseguinte, se se’irim, em Isaías 13:21 e 34:14, há de ser entendido como se referindo a algo além do significado de “bode”, é apropriada a tradução “demônios caprinos”, coerente com a tradução em Levítico 17:7 e 2 Crônicas 11:15.
Isaías pode ter intercalado na sua lista de animais e aves literais uma referência aos demônios, não querendo dizer que se materializariam em forma de bodes, mas que os pagãos em redor de Babilônia e de Edom imaginariam que tais lugares fossem habitados por demônios. A História mostra que o povo da Síria e da Arábia já por muito tempo associava criaturas monstruosas com tais ruínas. E se houve animais hirsutos nas ruínas desoladas de Edom e de Babilônia, os observadores talvez fossem induzidos a pensar em demônios.

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